sábado, 27 de junho de 2009

Voz do melro

Deito-me no vale dos lençóis destinada a revelar por fim o que os sonhos me transmitem. Entro então num místico vale de ilusões, ouvindo sempre ao longe uma voz, uma voz que me vai guiando nos sonhos de cores, pelas montanhas do vento e pelas estradas de música.
Olho para o lado e encontro um melro que me diz: eu cuido de ti! Eu confio nele, pois a voz assim me diz para confiar. Seguimos então os dois, por caminhos lindos que só a percepção colorida consegue perceber. Eu percebo… o melro também… a voz também…
Percorremos lindos caminhos, e enquanto vivemos os sonhos alegres, a voz vai relatando o nosso caminho.
Eles caminham juntos sempre contentes, com o amor na alma, e a paz no coração. Não sabem para onde vão nem quem encontrarão, nem querem fazer. Vão sempre ouvindo a banda sonora preferida, aquela que diz a sua vida, dois corações a baterem em uníssono, peito que canta com alma, sem nunca calar a voz que lhe corre nas veias.
Sim nós caminhamos juntos, eu e o melro, que me canta baixinho ao ouvido, pois a sua música só é reconhecida por quem já viu o arco-íris com os olhos fechados e conseguiu identificar as suas cores quando o mundo se vestia de preto e branco.
Vamos caminhando, ao nosso lado só existem histórias, flores e animais, flores que se abraçam na tormenta da felicidade, peixes que riem porque a vida lhes corre bem, rios de cor azul brilhante que correm, não, dançam, como as árvores que as acompanham num delicioso ritual de harmonia de qualquer batuque, tique taque, conhecido como o bater do coração.
Chegamos então a um largo campo, coberto de cores mágicas segredadas pelo vento à música das árvores, decidimos ficar por aí…
Dizemos então, eu e o melro, a voz amiga que sempre nos guiou e acompanhou, não vens ?
Vão vocês que eu já lá vou ter…
O melro segreda-me ao ouvido… acorda… e a voz abraça-me e assim acordo para o mundo colorido que é a alma da vida do coração de quem canta sem ouvir música…

2 comentários:

  1. hey.. escreves bem...sai tudo da caixa mágica?

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  2. melro...
    Eu tenho um melro
    que é um achado.
    De dia dorme,
    à noite come
    e canta o fado.

    E, lá no prédio,
    ouvem cantar...
    E já desconfiam
    que escondo alguém
    para não mostrar.

    Eu tenho um melro,
    lá no meu quarto.
    Não anda à solta,
    porque, se ele voa,
    cai sobre os gatos.

    Cortei-lhe as asas
    para não voar.
    E ele faz das penas
    lindos poemas
    para me embalar.

    Melro, melrinho,
    e se acaso alguém te agarrar,
    diz que não andas sozinho
    que és esperado no teu lar.

    Melro, melrinho
    e se, por acaso, alguém te prender,
    não cantes mais o fadinho,
    não me queiras ver sofrer.

    E não voltes mais,
    que estas janelas não as abro nunca mais.

    Eu tenho um melro
    que é um prodígio.
    Não faz a barba,
    não faz a cama,
    descuida o ninho...

    Mas canta o fado
    como ninguém.
    Até me gabo
    que tenho um melro
    que ninguém tem.

    Eu tenho um melro...
    (-Que é um homem!)
    Não é um homem...
    (-E quem há-de ser?!)
    É das canoras aves
    aquela que mais me quer.

    (-Deve ser homem!)
    Ah, pois que não!
    (Então mulher…)
    Há de lá ser!?
    É só um melro
    com quem dá gosto adormecer.

    Melro, melrinho...

    E não voltes mais,
    que a tua gaiola serve a outros animais.

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