sábado, 3 de abril de 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Duía - Da Weasel

A noite era calma
a chuva era intensa
uma fartazana
mas isso é sem ofensa
só eu e ela
naquele fartote
amor prazer e eu mostrava o meu forte
com muita calma,com muito amor
ela na minha alma
e eu gritando por favor


Nunca me deixes
preciso de ti
o amor é uma loucura e tu precisas de mim
em qualquer altura em qualquer lugar
sinto a tua presença
até no meu olhar.



Meu amor
minha dor
meu prazer
meu terror
razão de toda a fé e descrença no criador
tarde de verão
noite de inverno
brisa de paraiso
ou chama de inferno
és como 2 em 1
versão concentrada
para minha razão angustiada serenata
sempre ao meu lado sempre
longe de mim
sempre mais que suficiente,
sempre assim,assim...


Agora embora tudo passou
ela endoideceu
e logo me largou
sem preconceito
andar à deriva
eu andava

e não tinha mais saida
Agora meu irmão
pensa um bocado
como passarias
se estivesses neste caso
entre duas paredes
num lugar estreito
é como querer nadar sem ter o braço
direito

Música portuguesa forever

A lei que obriga as rádios a passar mais música portuguesa alterou por completo o nosso panorama radiofónico: hoje em dia ouve-se mais música em inglês.
Muito bem, talvez seja exagero. Mas não andará muito longe da verdade. A lei não obriga as rádios a passar uma determinada quota de música boa, até porque a qualidade da música depende de um critério subjectivo. O problema é que a nacionalidade da música também parece difícil de determinar objectivamente. Uma música tocada com instrumentos estrangeiros, cantada em língua estrangeira e produzida em estúdios estrangeiros por produtores estrangeiros pode ser portuguesa, e uma música cantada pela Nelly Furtado em português (supondo que a língua que Nelly Furtado fala quando pensa que está a falar português é, de facto, português) pode ser estrangeira.
Vamos supor que a Madonna é acometida de uma virose esquisita e resolve gravar um vira do Minho em português. Pode acontecer. É um sonho que tenho há muito: de repente, uma boa quantidade de artistas anglo-saxónicos decide que a língua inglesa é um bocado foleira e que as músicas ficam com muito mais pinta se forem cantadas em português. Pois bem, eis um facto chocante: o vira da Madonna não será considerado música portuguesa, por muito que ela esganice a voz, raspe no reco-reco e malhe nos ferrinhos. Por outro lado, a Ana Malhoa pode cantar o «Like a Prayer» da Madonna numa espécie de inglês - e canta, que eu já ouvi com estes que a terra há-de comer. Como é óbvio, a terra, se fosse minha amiga, tinha-os comido antes de esta infeliz ocorrência se ter verificado. O que me preocupa é que o «Like a Prayer» da Ana Malhoa, além de contar como música, o que já é estranho, conta como música portuguesa.
Espero não ser mal interpretado: não tenho nada contra a música portuguesa que é cantada em língua estrangeira. Mas tenho dificuldade em distingui-la da música estrangeira. Sobretudo, acho que se podia variar. Se a lei permite que a música portuguesa não seja, digamos, portuguesa, julgo que se podia arriscar um pouco mais. Por exemplo, compor uma boa música, palpitante de novidade, numa língua morta. «Discipulae rosas donant magistrae, nomine Iuliae». Dava um grande tema. Quanto mais não seja porque, se não estou em erro, anda para ali um ablativo. Alguém componha uma rockalhada em latim, se querem ver o que é bom. O genitivo nem tanto, mas o ablativo anima mesmo uma festa.


'Novas Crónicas da Boca do Inferno'
Ricardo Araújo Pereira

quarta-feira, 31 de março de 2010

No meu tempo não era assim

Quando este texto for publicado, o leitor já terá visto várias vezes o vídeo em que uma aluna da escola Carolina Michaelis dá início a um motim porque a professora de Francês teve a ousadia de lhe confiscar o telemóvel. (Se não viu o filme, digo-lhe que impressiona. Sobretudo porque, enquanto a generalidade dos cidadãos é assaltada na rua, a esta senhora o gangue apareceu-lhe no local de trabalho.) Também calculo que já terá tido oportunidade de ouvir várias pessoas a garantirem-lhe que isto, no tempo delas, não era assim. Eu nunca perco uma oportunidade de me juntar a um coro de moralistas (que, normalmente, têm uma afinação irrepreensível), e por isso estou aqui para dizer o mesmo: isto, no meu tempo, não era assim. Era pior. Sobretudo porque não havia telemóveis. Privados da possibilidade de filmar os seus actos de indisciplina, os alunos do meu tempo tinham muita mais em tomar consciência da sua própria idiotia. O filme da escola Carolina Michaelis tem essa virtude: mostra a idiotice em toda a sua nudez. Um regalo para os meus olhos, que aprecio muito idiotice – e nudez ainda mais. Acredito sinceramente que, depois de verem a figura que fizeram, tanto a protagonista do filme como o magnífico cineasta que captou a acção, lançando a todo o passo estupendas indicações de cena, não voltarão a comportar-se assim. No meu tempo, teríamos continuado. Um alarve que toma consciência de ser alarve insiste na alarvidade? Não creio. E, se um alarve cair no meio de uma floresta e não estiver lá ninguém para ouvir, faz barulho? Julgo que sim, e confesso que até espero que se aleije com alguma gravidade na queda. A verdade é que, se há coisa que nunca muda em toda a história da humanidade, é esta: os adolescentes são parvos em todo o lado. Todos os senhores respeitáveis já foram, numa altura ou noutra, adolescentes parvos. Jorge de Sena começa um livro autobiográfico dando conta da «indisciplina ruidosa» que eram as suas aulas de Filosofia. Que, notem, decorreram no tempo dele. Tempo esse que é bem anterior ao tempo dos que agora dizem que no seu tempo isto não era assim. Está baralhado com isto dos tempos? Siga para o próximo parágrafo, que é já o penúltimo.

É por isso que a culpa do que sucedeu na escola Carolina Michaelis, a ser de alguém, é da professora. Ser professor de liceu é das actividades mais insolentemente arrogantes a que alguém se pode dedicar: trata-se de pretender ensinar coisas a quem já sabe tudo. Eu, pelo menos, sabia tudo aos 15 anos. A própria Carolina Michaelis, que era tão boa senhora, sabia com certeza muito mais aos 15 anos do que quando foi ensinar para a Universidade de Coimbra. Toda a gente sabe tudo aos 15 anos. Só com o passar do tempo se vai descobrindo, com razoável sobressalto, que não se sabe quase nada. Mas há duas ou três pessoas que nunca aprendem o seguinte: o tempo delas, apesar de contar com a sua inestimável presença, não é especial em nada. No meu tempo, aliás, toda a gente sabia isso.
Nota: Não conheço bem as recentes propostas do Ministério da Educação e por isso não sei se, actualmente, posso prenunciar-me acerca de um professor sem o avaliar. Aqui fica, então, a minha avaliação da professora de Francês da escola Carolina Michaelis, baseando-me apenas nas imagens do vídeo: Resistência: 17. Capacidade de sofrimento: 19. Equilíbrio: 16. Persistência: 18.

'Novas crónicas da boca do inferno'
Ricardo Araújo Pereira

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Tudo partido social-democrata

Não sendo analista político, tenho dificuldade em compreender a razão pela qual o PSD tem tão pouca vocação para fazer oposição ao Governo quando tem tanta habilidade para fazer oposição a si mesmo. Lá talento para litigar têm eles, mas gostam mais de o exercitar uns com os outros do que com o PS. Ao PS, aliás, o PSD tem pouco a apontar. Basicamente, Sócrates está a fazer tudo mais ou menos como eles acham que deve ser feito. Nada disto é estranho, apesar de tudo. Ninguém duvida de que o PSD tenha um plano para salvar Portugal, mesmo que aparentemente não tenha um plano para se salvar. Toda a gente percebe que o PSD é mais difícil de governar do que o país. Proporcionalmente, o PSD tem mais gente com ambições políticas do que o país, mas barões do que o país, e mais Albertos Joões Jardins do que o país. É óbvio que se trata de um partido ingovernável. Até porque as ambições políticas dos seus membros são sazonais: curiosamente, só se manifestam quando o PSD está no poder. Além disso, num partido normal, mesmo que os militantes tenham perspectivas diferentes sobre tudo o retso, pelo menos entendem-se quanto à ideologia. No PSD, que é um partido que se caracteriza por não ter ideologia nenhuma, a harmonia é rara e difícil. Veja-se o que sucede agora: o António Capucho não concorda com o Luís Filipe Menezes; o Luís Filipe Menezes não concorda com o Rui Rio; o Rui Rio não concorda com o Pacheco Pereira; e o Pacheco Pereira não concorda com ninguém. O caso complica-se quando constatamos que Luís Filipe Menezes, na ânsia de agradar a toda a gente, diz com frequência uma coisa e o seu exacto inverso, o que faz com, muitas vezes, o presidente do PSD nem consigo mesmo concorde. E o trágico é que há quem diga que esta é a sua melhor qualidade. Faz sentido: Luís Filipe Menezes não é uma alternativa a José Sócrates. É várias. Menezes tem opiniões para todos os gostos. Há propostas capazes de agradar a todos os sectores da sociedade portuguesa, e ainda a alguns sectores de certas sociedades estrangeiras. As únicas pessoas a quem Menezes não consegue agradar, por mais que tente, são os militantes do PSD. O grande problema parece ser, portanto, este: Luís Filipe Menezes é tão popular dentro do PSD como Sócrates no país. Talvez seja por isso que Menezes aparece sempre tão mal classificado nas sondagens: se calhar, a Universidade Católica anda a recolher opiniões na Rua de São Caetano à Lapa.


'Novas Crónicas da boca do Inferno'
Ricardo Araújo Pereira

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quarto de vista para o fim do mundo

Neste momento, a comunidade científica está dividida: certos cientistas acreditam que há pessoas a menos na Terra; outros acreditam que há pessoas a mais. Os que defendem que há pessoas a menos, como é óbvio, nunca tentaram atravessar a ponte 25 de Abril numa segunda-feira de manhã. Há que fazer mais pesquiza, companheiros. Por outro lado, a discussão terminaria com proveito para toda a gente se os cientistas que consideram que o planeta tem gente a mais morressem todos contribuíam para a diminuição da densidade populacional e deixavam de chatear quem não se importa de viver apertado.
Confesso que não me interesso especialmente por questões demográficas, mas tenho um problema: sempre que se publica um desses estudos segundo os quais o mundo tem excesso de população, eu sinto que sou uma das pessoas que estão cá a mais. Maldito sentimento de culpa.
Uma coisa é certa: todos os estudos que apontam para o cenário catastrófico de um mundo superlotado parecem esquecer um facto a meu ver importante: boa parte das pessoas que estão vivas são idiotas. E essa idiotia acaba por lhes reduzir bastante a esperança de vida. Repare o leitor no seguinte neste momento, cerca de três dezenas de menbros de uma seita russa estão barricados numa caverna a sudeste de Moscovo. Todos eles estão convencidos de que o mundo vai acabar em Maio de 2008 (o que me causa algum transtorno, porque já tenho coisas combinadas para Junho) e ameaçam cometer suicídio colectivo. Enquanto houver gente destam, o planeta nunca há-de rebentar pelas costuras.
Atenção: não digo que esta gente seja idiota por acreditar que o mundo vai acabar daqui a seis meses. Cada um acredita no que quiser e ninguém nada com isso. Eu também acredito que ainda hei-de casar com a Scarlett Johansson e não há quem me convença do contrário - nem mesmo a Scarlett, que que bem podia parar de fazer queixa de mim à polícia. O que eu reputo de idiota é a opção pelo suicídio a escassos meses do fim do mundo. Como é possível ponderar a hipótese de perder o fim do mundo, que deve ser um espectáculo tão bonito? Se me disserem que o mundo acaba daqui a cinco minutos, eu vou fazer pipocas e sento-me à janela. Suicidar-me, além de estúpido, é estar a trabalhar para o boneco. É verdade que, por mais vistoso que seja o fim do mundo, no dia seguinte não poderemos comentá-lo com ninguém. Mas não deixa de ser reconfortante saber que também não há qualquer hipótese de lermos um daqueles comentários irritantes dos críticos a quem tudo sabe a pouco: «As bolas de fogo não eram assim tão grandes. Nem chamuscado fiquei», ou «O apocalipse podia ter sido mais apocalíptico, especialmente no final.» Não, meus amigos. Eu não perco o fim do mundo por nada deste mundo.


'Novas crónicas da boca do inferno'
Ricardo Araújo Pereira

desvaneios da mente

Pensamentos vão e vêm e apoderam-se da minha mente... Pensamentos negativos que tornam em desespero o sentimento feliz que sentia e ainda sinto... Estes pensamentos tomam as rédeas da direcção a tomar, e o meu sentimento sente-se a afogar... Preciso de uma maré renovadora... Preciso do sal revelador que me eleve o espírito e me mostre a direcção mais feliz, mais certa para o grande sentimento poder-se revelar e, quem sabe, aumentar?

Sobre um pequeno pormenor chamado liberdade

Eu não gosto de militares. Não gosto da ética militar, nem da brutalidade, nem daquele fanatismo patriótico que é, com muita frequência, trágico.
E também não gosto do povo. Não gosto da irresponsabilidade da multidão, nem daqueles que parecem ser os dois principais factores de interesse da massa popular: aglomerar-se em torno de acidentes rodoviários e insultar as camionetas que levam os arguidos para o tribunal. Tinha um amigo da UDP (notem que é possível fazer amizade com gente da UDP) que gritava com gosto a palavra de ordem do partido: "UDP, sempre ao lado do povo!" E depois acrescentava, mais baixinho: "Mas nunca no meio dele." O escritor Mário de Carvalho costuma advertir para a necessidade de distinguir o povo do populacho, porque o primeiro é um conceito nobre e até mítico, e o segundo é uma massa infame. O problema é que é difícil encontrar o povo, mas é muito fácil dar de caras com o populacho.
E, no entanto, foram os militares e o povo que fizeram o 25 de Abril. Às vezes dá-se o caso de um casal muito feio ter um filho muito bonito. Parece-me que foi o que aconteceu, embora nem toda a gente esteja convencida da beleza da criança. Para mim, o mais divertido nas comemorações do 25 de Abril têm sido as tentativas para tornar a data «mais consensual». O Dia da Liberdade não reúne consenso, o que me deixa verdadeiramente surpreendido. Percebo que a liberdade não seja consensual, mas do meu ponto de vista ninguém teve razões de queixa: para quem aprecia a liberdade, o 25 de Abril foi agradável; para os que não gostam, foi uma oportunidade para fazerem aquela viagem ao Brasil que tinham andado tanto tempo a adiar. Sempre pensei que a dara agradasse a todos.
Na verdade, porém, o 25 de Abril parace agradar a cada vez menos gente. Há autores para quem o salazarismo não foi um fascismo, e outros para quem o 25 de Abril não foi exactamente uma revolução. O que faz com que, aparentemente, na frase «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais», não haja nada que se aproveite. Nem o 25 de Abril foi 25 de Abril, nem o fascismo foi fascismo.
E por isso, amanhão, numa data que, pelos vistos, não chegou a ocorrer, comemora-se a nossa libertação de um opressor que, ao que me dizem agora, nunca existiu. Até parece mais bonito assim, não parece? Parece. Resumindo e concluindo: 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.


'Novas crónicas da boca do inferno'
Ricardo Araújo Pereira

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Palavras

Dizem que as palavras contêm dentro delas o que nenhum gesto poderá alguma vez transmitir, pois atrás de um abraço pode estar uma contradição, atrás de uma mão amiga pode vir a inimiga.
Então no que resta acreditar?
Nas palavras certamente, essas pequenas maravilhas que conseguem transmitir sentimentos de anos e milénios em apenas um som, em pequenos dialectos que transformam o olhar mais triste de alguém em algo radioso.
Pois é através do olhar, que as palavras ganham sentido, pois a sua percepção só é sentida quando é lida com os olhos de quem quer viver na plena consciência do seu ser.
Uma imagem vale mais do que mil palavras?
Uma palavra consegue provocar o olhar mais puro e verdadeiro que todos nós procuramos intensamente toda a vida, aquele olhar que faz parte de nós, aquele olhar que nos diz mil palavras sem dizer nenhuma…
Utilizando as palavras tendo expressar o que o interior quer dizer, através do olho tento dizer aquilo que as palavras às vezes não querem escrever…
Que acontece agora?
Continuo a escrever, libertando os gestos que quero mostrar, criando mil imagens de fantasias e esperanças, palavras essas que alguém irá entender…